03 novembro 2010

#4

Nervosa

Ana dormiu mal, pouco e acordou rabugenta.
Levantou-se olhou para o espelho e sentiu-se feia. Feia e tão magra que só via os ossos salientes do pescoço e das maçãs do rosto.
Era uma adolescente, magra e alta, com a face cheia de pequenas sardas. Cabelos castanhos claros e olhos da mesma cor mas com um verde escuro lá perdido no fundo. Detestava o seu corpo sem curvas, sem seios, sem ancas. Achava que nunca ia ser bonita ou interessante aos olhos do universo masculino.
De repente o seu humor mudou. Afinal, não devia ser assim tão feia. Miguel devia ter gostado de alguma coisa em si para ter tido todo o tempo que lhe dispensava ultimamente. E o que lhe importava o que Miguel gostava? E nesse momento, Ana recomeçou com aqueles tremeliques que a andavam a deixar preocupada.
Que irritação, pensou ela. E entrou na banheira para tomar um duche e afastar aquelas considerações tão parvas mas tão próprias da idade dela.

Foi à tarde que Ana recomeçou a ficar nervosa, mais nervosa ainda. Pensou várias vezes se devia ir ter com Miguel. E porque não deveria ir? Ele foi sempre educado, gentil. As conversas foram sempre sobre assuntos decentes, nada de impróprio. E ela ficava bastante constrangida até com palavrões. Tinham imenso em comum. Gostos musicais, livros, filmes. Gostavam de conversar. Apenas isso. E era por isso que Ana ia ao encontro de Miguel.

Vestiu os seus habituais jeans, brancos porque o calor assim pedia.
Ana nunca passou pela comum fase da cor preta na sua adolescência, ainda que também fosse cor que ela apreciasse, apenas porque ia bem com o seu tom de pele branquela. Calçou as suas inseparáveis Doc Martens. Olhou para o espelho, várias vezes até e fez poses. Não valia a pena mudar de roupa, já que ela achava que tudo lhe ficava mal, então não perderia mais tempo. Não queria chegar atrasada e o relógio já marcava 14h30m.

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