Maçã & Limão
No caminho que Ana fez até chegar ao destino, imaginou várias vezes o que iria dizer, ou como havia de agir. De uma coisa estava certa, tinha de controlar aquele nervoso, senão ia estar a falar e a bater o dente. Coisa que não ia parecer nada bem tendo em conta que estava um calor daqueles!
Antes de entrar no Arcádia, respirou fundo três vezes. Três. E entrou.
De Miguel nem sinal. Procurou com o olhar mas nada. Por segundos pensou se ele não teria mudado de ideias e talvez tivesse tentado ligar-lhe depois de ela ter saído de casa. Não. Ele não faria isso. E sacudiu a cabeça para afastar inseguranças.
Havia pouca gente. Escolheu uma mesa junto a um pilar que o café tinha quase no centro e indecisa não sabia se havia de ficar de frente ou de costas para a porta de entrada. Se ficasse de frente ia parecer que estava ansiosa, se ficasse de costas ia com certeza dar um mau jeito no pescoço cada vez que a porta abrisse. Ficaria de lado então. Sentou-se. Nesse momento entrou Miguel. Ana ficou sem ar. O coração bateu forte. E ela ficou zangada com o seu coração, com os seus pulmões. Respirou fundo e sorriu a Miguel quando ele se sentou à sua frente.
Nenhum dos dois disse nada. Olharam-se apenas e naquele instante o empregado dirigiu-se à mesa. Perguntou se iam tomar algo. Iam. Ambos disseram Joi. E riram. Mas enquanto Ana preferia de maçã, Miguel optou pelo de limão.
Que giro, comentaram. E com aqueles sorrisos, o gelo quase inexistente, desapareceu. Sorriram e de novo se instalou aquela cumplicidade. O mesmo à vontade que o telefone proporcionava. A mesma vontade de se conhecerem, de saberem tudo um do outro. E já o Joi tinha acabado, e a tarde estava no fim, e ainda Ana & Miguel conversavam. Olhavam nos olhos um do outro como se não tivessem fundo. Como se neles vissem o mundo ou algo que os prendia lá. Como se quisessem que o relógio parasse... Implacável o tic-tac acordou-os. Outras tardes teriam, outros dias, outras horas.
Quando sairam, cheirava a flores, a verão, a alegria. Sorriram. Miguel tinha um sorriso extraordinário. Fechava os olhos quando sorria, como se quisesse memorizar o que o fazia sorrir. E Ana ficava de olhos abertos, para também ela memorizar, mas o sorriso de Miguel.
Com um beijo na face, Miguel despediu-se. Ana deu dois passos e olhou para trás. Miguel estava com uma mão no carro, a olhar para ela...
2 comentários:
Senti-me convidado a entrar nesta casa, percorri seus corredores e estou muito confortável aqui.
Belo blog, e belos escritos.
Abraço
Está convidado para regressar aqui sempre que tiver essa vontade. Vamos recebê-lo de braços abertos :)
Obrigada pelas palavras de apoio.
Abraço
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