13 novembro 2010

Por amor, somos.


"... e desde então sou porque tu és, e desde então, és, sou e somos, e por amor serei, serás, seremos."
Anónimo

#13


O segundo beijo

Deste beijo, Ana lembra-se. Perfeitamente. E ainda hoje, quando o recorda fica sem fôlego!

Festejava o seu aniversário, numa discoteca com alguns amigos. Miguel também estava presente, mas aquele não era o ambiente dele. Muito recatado, encostado a um canto, Miguel apreciava Ana e a sua alegria contagiante. Viu-a dirigir-se a ele, com um copo de champanhe para brindarem.
No fim do brinde, Ana perdeu a vergonha e beijou Miguel descaradamente, de uma forma arrebatadora e apaixonada! De repente a paixão tomou conta dos dois e num beijo fundiram-se num só! O mundo rodopiou! O tempo parou. Deixaram de ouvir a música e só eles os dois existiam! Um beijo. Um beijo só. E ambos se perderam no sabor um do outro…

Deste beijo Ana não se esquece. Porque até hoje, aquele não foi o único beijo, mas foi um beijo único…

Separaram-se, atordoados, olharam-se e souberam. Não o disseram, mas sabiam. Miguel não o admitia e fingia não acreditar em Ana, mas ambos sabiam que estavam perdidos de paixão!
Nessa noite, quando Miguel levou Ana a casa, dentro do carro, com a cabeça no colo dela, ele cedeu e disse: “Gosto tanto de ti, sabias? E tu, gostas de mim?”
E disse-o com a mais profunda ternura e meiguice, com uma voz à bebé e uma tremenda insegurança e medo. Ana percebeu isso e só lhe respondeu, enquanto passava as mãos no cabelo dele: “Eu amo-te”. E o silêncio falou o resto…

#12


Outras paixões

As aulas começaram, as rotinas mudaram, mas Ana e Miguel não se largaram.
Sempre que podiam, encontravam-se no café e conversavam. Um dia, Miguel estava à espera dela no portão da escola e levou-a a casa. E no dia a seguir a mesma coisa, e mais um dia e outro e outro até ser quase um hábito.

Assim que Ana ouvia a campainha da escola saía a voar, descia as escadas quase sem as pisar, porque já sabia que Miguel estava ali, à espera dela…
Esse era o momento alto do seu dia, entrava no carro, dava um beijo na face de Miguel e ele sorria…
Ana tinha outra paixão para além de Miguel. Tinha várias mas era Miguel que estava no topo! Adorava escrever e mantinha já há um ano um hobby. Fazia um programa numa rádio local.

No inicio das aulas, começou a fazer um horário perto da hora de jantar. Como não interferia nas suas boas notas na escola, tal hobby nunca representou um problema e os pais de Ana deram-lhe essa liberdade e ao mesmo tempo a responsabilidade quando permitiram que assumisse esse compromisso. E Ana adorava. Estar atrás de um microfone, a escolher música para agradar a quem a ouvia, o ambiente da rádio e os “colegas” era uma paixão para ela, que na altura era quase a “mascote” devido à sua idade. Ali, toda a gente a mimava, mas respeitava ao mesmo tempo. O programa da sua responsabilidade, era na íntegra realizado por ela. E assim, Ana tinha permissão para sair de casa à noite, em tempo de escola.

No fim do programa, Ana aproveitava para estar um bocadinho com Miguel sempre que era possível… E começou a ser cada vez mais possível, uma vez que Miguel, também ele se mostrava cada vez mais disponível.

11 novembro 2010

No beijo está o desejo

“Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente eléctrica quando tocamos a pessoa certa”

Carlos Drummond de Andrade

#11

O primeiro beijo

Ana não se recorda quando ela e Miguel deram o primeiro beijo. Já tentou várias vezes lembrar-se desse momento, mas por mais que se esforce não se recorda, não do primeiro. É estranho, não entende porquê, mas não se lembra. Passaram vinte anos desde esse dia, mas lamenta não se lembrar…

Recorda-se no entanto do primeiro toque, da força dos olhares trocados, de tremer cada vez que via ou ouvia Miguel e recorda-se do dia em que lhe disse, “Tu és o amor da minha vida e estou completamente apaixonada por ti. Sei que tenho só quinze anos, podes chamar-me garota, mas tenho a certeza que tu és a minha alma gémea!”
Lembra-se também que Miguel se riu, que não acreditou, que lhe disse que ela ainda ia conhecer muita gente, no entanto no olhar dele bailava um brilho especial…

Mas Ana lamenta não recordar o primeiro beijo… Ainda hoje não entende porquê. Mas tem a certeza que só pode ter sido arrebatador. Talvez por isso não se lembre…

#10

O reencontro

No dia em que Miguel regressou Ana estava sufocada de saudades!
Tinham combinado previamente, encontrarem-se no café a meio da tarde. Quando Ana chegou Miguel já estava à espera dela e ela chegou antes da hora marcada, o que significa que Miguel estava tão ou mais ansioso que ela. “Isso é bom! Não sou só eu”, pensou Ana.
Sentou-se de frente para ele e sorriu… Miguel olhava-a com intensidade, sorriu também e disse:
 - Então garota? Já sei que não tiveste saudades minhas!
Ana – Que mentira! Tive imensas! E tu? Ainda te lembras de mim?
Miguel – Lembro todos os detalhes de ti! Especialmente dessas covinhas que fazes ao sorrir…
Gargalharam e Miguel estendeu a mão e agarrou-lha com força. Com tanta força que Ana sentiu a mão espremida no meio da dele.

Miguel – Trouxe uma coisa para ti. Nada de especial…
Pegou no envelope e entregou-o a Ana. No interior estava uma foto. Na foto, estava o nome dela, escrito na areia, em letras gigantes e numa perfeição tremenda. Na areia, no meio das rochas, em vez de Miguel andar perdido nas ondas, e noutras coisas das praias do sul, escreveu o nome dela de uma forma espectacular!
Ana – Uau! Está fantástico! Como fizeste isto?
Miguel – Fiz uma manhã em que me lembrei de ti, com um pauzinho comprido para não deixar pegadas.

Estava de facto muito bem. Ana sorriu e ficou a olhar para a foto e a pensar que não tinha feito a pergunta que queria, que era, porquê Miguel, porque escreveste o meu nome? Mas manteve o silêncio.

Miguel estava moreno. Dizer moreno é dizer pouco e Ana achou que ele era o homem mais bonito que existia. Moreno, a olhar para ela e a sorriu genuinamente, Miguel voltou a agarrar a mão de Ana e disse-lhe:
 - Estás gira miúda!
Ana sorriu, meio envergonhada e respondeu:
- É por te ver! Estou feliz…
E ficaram sem saber quantos minutos não conseguiram parar de se olhar…

06 novembro 2010

No mar dos teus olhos

"No mar dos teus olhos, mais belo infinito, um mundo de encanto, um lindo sorriso!”
 Desconhecido

#9

Escrevi não escrevendo

Durante essa semana, Miguel ligou a Ana todos os dias. E durante meia dúzia de impulsos renovavam o que sentiam, atropelavam-se nas palavras, procuravam-se na voz.
Dito assim, até parece que a semana passou num ápice, mas não passou. Ana não via a hora de voltar a ver Miguel. O tempo não passava. Ele tinha-lhe prometido uma surpresa. Na terça-feira perguntou-lhe se o correio já tinha passado em casa dela. Ana disse que não mas ficou a perceber que a surpresa envolvia o correio e então passou a desesperar pelo homenzinho que chegava ao início da tarde. Na quarta-feira chegou de facto um envelope. Era dele. Mas se era dele, teve que ser enviado logo na segunda! E ele só tinha ido Domingo!
Ana estava impressionada.

Agarrou o envelope como quem recebe um tesouro. Cheirou-o. Reparou em todos os pormenores. Abriu-o e no seu interior estava um postal. Um postal com um desenho. Na parte superior do postal estava um pedaço de mulher, de biquíni a sair do mar e um velhote à espera, todo guloso. Na outra metade do postal o desenho mostrava, que afinal a boazona estava a ser carregada aos ombros por um homem feito de músculos e o velho guloso estava só triste. No verso nada escrito. Apenas um post scriptum que rezava assim: “Espero que tenhas gostado das lindas palavras que te escrevi”.

Ana voltou a abrir o envelope. Estaria outro papel lá dentro? Não. Então a que palavras se referia ele? Sempre a brincar, pensou. Guardou o postal no meio do seu diário.
Já no fim da tarde, como era hábito, o telefone tocou: “Recebeste o meu postal? Estive para não ligar uma vez que sabia que ias receber o postal, mas não resisti.” Ela riu. “Só para que entendas, o velho sou eu e a rapariga és tu”. Ele riu.

E assim conseguiram sobreviver a uma semana sem nadarem nos olhos um do outro.

Mais que alegria....

"Não há arauto mais perfeito da alegria do que o silêncio. Eu sentir-me-ia muito pouco feliz se me fosse possível dizer a que ponto o sou."
William Sakespeare

05 novembro 2010

#8

Impulso

Estendida em cima da cama, a ouvir música, Ana não ouviu o telefone tocar. Também não estava à espera que ele tocasse. Miguel tinha saído nessa manhã bem cedo, portanto não ia ligar-lhe. Mas num intervalo de tempo entre duas músicas o telefone continuava a tocar. O coração dela disparou. Não! Não pode ser ele!, pensou. Correu para atender e ofegante disse: “estou”!

Era mesmo Miguel do outro lado! Ana ficou sem ar. Ele conseguia fazer com que todo o ar dos pulmões de Ana fugisse assim que a sua voz chegava aos ouvidos dela. Era impressionante!
Miguel esclareceu que não podia falar muito tempo, tinha acabado de chegar ao destino e ainda nem estava alojado. Tinha tido tempo apenas de comprar um cartão de impulsos para ligar a Ana. “Foi um impulso”, disse ele. E ambos gargalharam. “Depois ligo-te. Talvez te ligue. Penso ligar-te. Não fujas. Beijo”. E desligou.

Ana pulava! Dançava agarrada ao telefone.
A primeira coisa que Miguel fez quando chegou lá, foi ligar-lhe. Mais que isso! Foi ir comprar um cartão telefónico para lhe ligar. Por esta Ana não estava à espera. Porque mesmo partilhando com ele esta ligação especial, havia algo em Miguel que Ana não entendia. Uma certa reserva. Ou receio. Fingia ser um durão. Fingia. Mas era um pocinho de ternura.

Miguel era um rapaz talvez não muito bonito, mas esbelto. Era magro. Com 1,70m e qualquer coisa. Usava o cabelo castanho, escuro, bem curto e calçava sempre botas. O ano todo. Ana achava piada a essa coincidência, já que ela também. Não era nenhum modelo mas tinha algo que Ana nunca tinha visto em ninguém, algo não palpável. Miguel tinha um charme fora do comum, um sentido de humor requintado e fingia ter mau feitio. Quão explosivo pode ser com o sorriso dele à mistura? Para Ana, muito explosivo.

Saudade

"Saudade é amar um passado que ainda não passou,
 É recusar um presente que nos machuca,
 É não ver o futuro que nos convida."

 Pablo Neruda

#7

Toque

No último dia do mês de Agosto, Miguel disse a Ana que ia de férias uns dias. Ia com uns amigos, para as praias bem lá do Sul, antes que o verão terminasse. Despediram-se. Nenhum dos dois admitiu que sabia o quanto ia sentir a falta do outro. Nenhum dos dois falou muito nesse dia. Apreciaram-se no silêncio de quem escuta o coração, sorriram e brincaram.
Ana disse a Miguel que logo se esqueceria dela, quando chegasse ao destino banhado de garotas com belos biquínis e cheias de curvas. Miguel disse a Ana, que ainda ele não teria batido a porta do carro e já ela se tinha esquecido dele ao sorrir para outro.

Naquele dia, por cima da mesa, junto às garrafas do Joi, Miguel estendeu a mão e agarrou na mão de Ana. Tocaram-se. E no meio daquela amálgama de sentimentos, num turbilhão de ideias, com os corações a cavalgar no peito, Ana & Miguel naquele segundo pertenceram um ao outro.

Foi no caminho para casa que Ana pensou. Aquele toque tinha sido o segundo desde o dia em que foi ter com Miguel pela primeira vez. Ele deu-lhe a mão. E ela o coração. Não sabia se era aquilo o amor. Não importava se era ou não. A única coisa que Ana sabia, é que queria ver aquele sorriso o resto da vida. Queria ver Miguel sorrir para ela todos os dias. Isso Ana, tinha a certeza. Levou a mão ao rosto, beijou a palma e sussurou “Miguel…”, como se o dissesse à beirinha do ouvido dele.

#6

Mergulhar

Não sabia bem o que pensar! Não reconhecia nada daquilo que estava a sentir. Não percebia sequer porque tinha aquele sorriso colado na face, que de tão grande quase lhe rasgava a boca!
Ana só conseguia pensar em Miguel. Cada vez que fechava os olhos, o sorriso dele aparecia e o mundo dela girava. E girava. E girava.

Miguel ligava-lhe todas as tardes.
Encontravam-se, pediam Joi de maçã e Joi de limão e passavam a tarde juntos. Ana absorvia e saboreava cada segundo do tempo passado com ele.
Falavam de tudo. De sonhos, projectos, passados, futuros, amigos, família. E sempre que parecia que já sabiam tudo um do outro, novo assunto surgia. Fotografia, leitura, música, cinema. E mesmo as janelas foram abertas. Falaram dos medos, do amor, da partilha, da dor, da frustração, das mágoas, da paixão, do sexo. Não houve tabus nem vergonhas, mesmo para Ana que nunca tinha estado com um homem. Tudo foi revelado, ambos se mostraram e partilharam a alma.

Com o mês de Agosto quase a terminar, ambos sabiam que as coisas iam mudar, mas não pareciam preocupados com isso. Sentiam que o tempo e o espaço conspiravam por eles. Não havia dúvidas, nem inseguranças, nem esquemas, nem maldade. Não havia outra intenção que não fosse, poderem apenas mergulhar no olhos um do outro e nadar juntos! E perdiam noção do tempo, do espaço e do Mundo.

Alegria

"A alegria e o amor são as duas grandes asas para os grandes feitos."
 Goethe

03 novembro 2010

#5

Maçã & Limão

No caminho que Ana fez até chegar ao destino, imaginou várias vezes o que iria dizer, ou como havia de agir. De uma coisa estava certa, tinha de controlar aquele nervoso, senão ia estar a falar e a bater o dente. Coisa que não ia parecer nada bem tendo em conta que estava um calor daqueles!
Antes de entrar no Arcádia, respirou fundo três vezes. Três. E entrou.

De Miguel nem sinal. Procurou com o olhar mas nada. Por segundos pensou se ele não teria mudado de ideias e talvez tivesse tentado ligar-lhe depois de ela ter saído de casa. Não. Ele não faria isso. E sacudiu a cabeça para afastar inseguranças. 
Havia pouca gente. Escolheu uma mesa junto a um pilar que o café tinha quase no centro e indecisa não sabia se havia de ficar de frente ou de costas para a porta de entrada. Se ficasse de frente ia parecer que estava ansiosa, se ficasse de costas ia com certeza dar um mau jeito no pescoço cada vez que a porta abrisse. Ficaria de lado então. Sentou-se. Nesse momento entrou Miguel. Ana ficou sem ar. O coração bateu forte. E ela ficou zangada com o seu coração, com os seus pulmões. Respirou fundo e sorriu a Miguel quando ele se sentou à sua frente.

Nenhum dos dois disse nada. Olharam-se apenas e naquele instante o empregado dirigiu-se à mesa. Perguntou se iam tomar algo. Iam. Ambos disseram Joi. E riram. Mas enquanto Ana preferia de maçã, Miguel optou pelo de limão.
Que giro, comentaram. E com aqueles sorrisos, o gelo quase inexistente, desapareceu. Sorriram e de novo se instalou aquela cumplicidade. O mesmo à vontade que o telefone proporcionava. A mesma vontade de se conhecerem, de saberem tudo um do outro. E já o Joi tinha acabado, e a tarde estava no fim, e ainda Ana & Miguel conversavam. Olhavam nos olhos um do outro como se não tivessem fundo. Como se neles vissem o mundo ou algo que os prendia lá. Como se quisessem que o relógio parasse... Implacável o tic-tac acordou-os. Outras tardes teriam, outros dias, outras horas. 

Quando sairam, cheirava a flores, a verão, a alegria. Sorriram. Miguel tinha um sorriso extraordinário. Fechava os olhos quando sorria, como se quisesse memorizar o que o fazia sorrir. E Ana ficava de olhos abertos, para também ela memorizar, mas o sorriso de Miguel.
Com um beijo na face, Miguel despediu-se. Ana deu dois passos e olhou para trás. Miguel estava com uma mão no carro, a olhar para ela...  

Ansiedade

"A ansiedade faz toda a esperança parecer angustiante".
João Paulo Diniz



#4

Nervosa

Ana dormiu mal, pouco e acordou rabugenta.
Levantou-se olhou para o espelho e sentiu-se feia. Feia e tão magra que só via os ossos salientes do pescoço e das maçãs do rosto.
Era uma adolescente, magra e alta, com a face cheia de pequenas sardas. Cabelos castanhos claros e olhos da mesma cor mas com um verde escuro lá perdido no fundo. Detestava o seu corpo sem curvas, sem seios, sem ancas. Achava que nunca ia ser bonita ou interessante aos olhos do universo masculino.
De repente o seu humor mudou. Afinal, não devia ser assim tão feia. Miguel devia ter gostado de alguma coisa em si para ter tido todo o tempo que lhe dispensava ultimamente. E o que lhe importava o que Miguel gostava? E nesse momento, Ana recomeçou com aqueles tremeliques que a andavam a deixar preocupada.
Que irritação, pensou ela. E entrou na banheira para tomar um duche e afastar aquelas considerações tão parvas mas tão próprias da idade dela.

Foi à tarde que Ana recomeçou a ficar nervosa, mais nervosa ainda. Pensou várias vezes se devia ir ter com Miguel. E porque não deveria ir? Ele foi sempre educado, gentil. As conversas foram sempre sobre assuntos decentes, nada de impróprio. E ela ficava bastante constrangida até com palavrões. Tinham imenso em comum. Gostos musicais, livros, filmes. Gostavam de conversar. Apenas isso. E era por isso que Ana ia ao encontro de Miguel.

Vestiu os seus habituais jeans, brancos porque o calor assim pedia.
Ana nunca passou pela comum fase da cor preta na sua adolescência, ainda que também fosse cor que ela apreciasse, apenas porque ia bem com o seu tom de pele branquela. Calçou as suas inseparáveis Doc Martens. Olhou para o espelho, várias vezes até e fez poses. Não valia a pena mudar de roupa, já que ela achava que tudo lhe ficava mal, então não perderia mais tempo. Não queria chegar atrasada e o relógio já marcava 14h30m.

01 novembro 2010

Um lugar...

"Quando te conheci, houve um lugar, um tempo e um sentimento. O tempo ficou marcado. O lugar será sempre lembrado. E o sentimento, jamais terá terminado!"
Desconhecido

#3

Desafio

Um tiro de sorte permitiu que Ana soubesse, sem perguntar, o apelido de Miguel. Parecia destinado. Depois disso foi uma verdadeira investigação. Dizia a si mesma que o fazia apenas pelo sabor do desafio, mas a verdade é que desde aquela conversa telefónica, Ana pensava em Miguel todos os dias.
Eram três os nomes que constavam na lista. Teria que ligar para os três. Decidiu adoptar a técnica que usava para ler jornais e revistas, começar pelo último da lista, quando lia começava sempre pelo fim. Excepto livros, claro.

Era mesmo o último o número do Miguel. Foi ele que atendeu, reconheceu logo a voz dele e por alguma razão que Ana desconhecia, começou a tremer e feito estúpida, desligou!
Que parva, pensou ela. E voltou a pegar no auscultador e a marcar o número. Foi novamente Miguel que atendeu:
- Estou?
Ana: - Ola Miguel!
Miguel: - Ola Ana! Já vi que descobriste o meu número! - Disse ele com um misto de alegria e malandrice. E mais uma vez passaram horas ao telefone, a rir e a conversar.

Passaram-se vários dias assim. O telefone tocava. E eram horas a falar. Ana já esperava ansiosamente pela chamada, gostava da voz dele, de o ouvir rir.
Uma tarde Miguel propôs que se encontrassem no café. Ana aceitou. Afinal, só se tinham visto no dia que se conheceram. Ficou combinado para a tarde do dia seguinte, às três, no Arcádia.

Ana desligou e ficou a pensar porque raio toda ela tremia. Estavámos em pleno mês de Agosto. Abafado. Não podia ser de frio!
Perguntou a si mesma se devia ligar à Vitória para lhe contar tudo isto. Vitória era a sua melhor amiga. Partilhavam tudo, mas Ana suspeitava que desta vez Vitória não ia concordar com isto. Além de Miguel ser praticamente um desconhecido, era bastante mais velho que Ana e a sua boa amiga não ia ver isto com bons olhos.
Contar-lhe-ia quando começassem as aulas, como uma história de verão e mais nada.

Nessa noite Ana adormeceu a imaginar o encontro do dia seguinte.

30 outubro 2010

# 2

Borboletas

Mês de Agosto, muito calor, cheiro a sardinhas assadas no ar.
Ana acha que a única coisa que consegue fazer é ficar quieta naquele sofá, enquanto olha sem ver para a tv, onde alguém canta nem sei bem o quê. O calor é tanto, que é mesmo assim que ela quer ficar. Imóvel.

Naquele momento, com a preguiça a embalá-la, o telefone toca. Toca. Toca. E Ana deixa-se estar. A curiosidade e o facto de poder ser algo importante fá-la levantar do sofá. Dava jeito um telefone móvel, pensou ela. Naquela altura os telefones ainda viviam presos pelos fios.
Ana atende.
 - Sim?
?: - Olá! És tu Ana?
Ana: - Sim, sou. Quem fala?
?: - Não adivinhas?
Ana: - Não estou a reconhecer a voz.
?: - Pois não. É a primeira vez que falamos ao telefone.
Ana: - Mas eu conheço-te?
?: - Conheces. Já conversamos antes.
Ana: - E eu dei-te o meu número?
?: - Bem... Não propriamente. Mas não foi dificil de descobrir.

A voz do seu interlocutor soava brincalhona mas ao mesmo tempo insegura. Ana estranhou estar a dar conversa a alguém que não se identificava. Sem perceber muito bem porquê continuou.
- Se não me dizes quem és, vou desligar.
?: - Não. Gostava que tu descobrisses. E se eu te der uma pista?

Ana achou piada e respondeu que sim. Ele começou na brincadeira e utilizou algumas das palavras que poderiam levar Ana à sua identidade. Ana ria e ia tentando adivinhar mas sempre sem sucesso e ao mesmo tempo umas borboletas iam tomando conta de si. Ao fim de uns minutos ele identifica-se:
- Sou o Miguel!

Nesse dia estiveram a tarde toda ao telefone, riam e brincavam e faziam perguntas um ao outro na ânsia de se conhecerem melhor. Antes de desligar, Miguel lançou novo desafio:
- Agora se quiseres voltar a falar comigo, vais ter que descobrir tu o meu número! Beijo
E desligou.

E agora? Pensou Ana. Eu nem sei o apelido dele, nem onde mora!
Também não ia pensar muito nisso agora. Estava cheia de sede. Mas deu consigo a relembrar a conversa com Miguel e a sorrir...
E que era isto que ela sentia no estômago? Estaria a ficar doente?

A 3 tempos...

Esta história será contada a três tempos. Passado, presente e pensamentos do que será o futuro a partir deste presente...
Complicado? Mais complicado é o amor...


"Amor não se conjuga no passado; ou se ama para sempre, ou nunca se amou verdadeiramente." M. Paglia

28 outubro 2010

#1

Só isso

Ela lembra-se do dia que o conheceu. Lembra-se porque estava sol, mas ela trazia as suas inseparáveis "Doc Martens". Tinha 15 anos. Era uma menina.
Não soaram trompetes, nem os anjos cantaram quando o viu. Sorriu apenas, alguém os apresentou e sem saber, esse minuto mudou para sempre toda a sua vida.
Não foi nada dessas coisas de amor à primeira vista, não houve slow motion como nos filmes, nem dúvidas nem certezas. Foi apenas um sorriso, meio tímido e no entanto tão sedutor.

Ana era assim, ingénua mas com a ideia que tudo sabia da vida. Atrevida para esconder a timidez. Espontânea e dona de um sorriso de quem vai conquistar o mundo. Ana era uma sonhadora, adorava dançar e tinha a certeza que um dia ia encontrar a sua alma gémea. Quando conheceu o Miguel, não pensou nisso. Não ficou com a boca seca, o coração não palpitou. Não nesse dia.
E nesse dia ela ainda não conhecia o amor.

Não sabia nada dele e não ficou curiosa. Ana ficou a ouvi-lo cantar. Achou-lhe graça. Só isso. Sorriu com aquela cara de menina e foi embora. Do dia em que Ana conheceu Miguel, ela recorda o calor, as Doc Martens e os sorrisos. Só isso.

Prólogo

Aqui, vou apenas ser narrador de uma história com quase 20 anos. Não na presunção de escrever um livro, mas na certeza de escrever como se de um se tratasse.
É uma história verídica onde apenas os nomes foram alterados e alguns factos serão omtidos para não ferir ninguém.
Ana & Miguel mudaram a vida um do outro e a de muitos outros que os rodeavam.

Não é a única história mas é uma história única. Talvez haja por aí muitas semelhantes, melhores quiçá, mas é esta que eu vou contar.


 "Vós, que sofreis, porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele." Victor Hugo

Ana & Miguel

Este é um blog que nasce hoje e que vai apenas, contar uma história...