05 novembro 2010

#8

Impulso

Estendida em cima da cama, a ouvir música, Ana não ouviu o telefone tocar. Também não estava à espera que ele tocasse. Miguel tinha saído nessa manhã bem cedo, portanto não ia ligar-lhe. Mas num intervalo de tempo entre duas músicas o telefone continuava a tocar. O coração dela disparou. Não! Não pode ser ele!, pensou. Correu para atender e ofegante disse: “estou”!

Era mesmo Miguel do outro lado! Ana ficou sem ar. Ele conseguia fazer com que todo o ar dos pulmões de Ana fugisse assim que a sua voz chegava aos ouvidos dela. Era impressionante!
Miguel esclareceu que não podia falar muito tempo, tinha acabado de chegar ao destino e ainda nem estava alojado. Tinha tido tempo apenas de comprar um cartão de impulsos para ligar a Ana. “Foi um impulso”, disse ele. E ambos gargalharam. “Depois ligo-te. Talvez te ligue. Penso ligar-te. Não fujas. Beijo”. E desligou.

Ana pulava! Dançava agarrada ao telefone.
A primeira coisa que Miguel fez quando chegou lá, foi ligar-lhe. Mais que isso! Foi ir comprar um cartão telefónico para lhe ligar. Por esta Ana não estava à espera. Porque mesmo partilhando com ele esta ligação especial, havia algo em Miguel que Ana não entendia. Uma certa reserva. Ou receio. Fingia ser um durão. Fingia. Mas era um pocinho de ternura.

Miguel era um rapaz talvez não muito bonito, mas esbelto. Era magro. Com 1,70m e qualquer coisa. Usava o cabelo castanho, escuro, bem curto e calçava sempre botas. O ano todo. Ana achava piada a essa coincidência, já que ela também. Não era nenhum modelo mas tinha algo que Ana nunca tinha visto em ninguém, algo não palpável. Miguel tinha um charme fora do comum, um sentido de humor requintado e fingia ter mau feitio. Quão explosivo pode ser com o sorriso dele à mistura? Para Ana, muito explosivo.

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